Na melhor das hipóteses

Na melhor das hipóteses

Chegamos ao final da primeira metade de 2023 e o balanço, ao menos para a indústria de compósitos, não é dos melhores.

Diferente dos períodos anteriores, em que as quedas de determinados segmentos foram compensadas pela melhora de outros, desta vez a retração foi generalizada.

Por mais que os analistas tenham revisto a projeção de crescimento do PIB de 1,2% para 2%, boa parte – para não dizer a totalidade – desse aumento deve-se à performance do agronegócio. E esse mercado, ainda que impacte o nosso setor, pois exerce influência direta no giro de caminhões e máquinas agrícolas, por si só não é capaz de alavancar de forma significativa o nosso resultado.

A indústria de compósitos no Brasil é muito dependente do setor de construção, sobretudo de produtos cujas vendas estão concentradas nas classes C e D – mármore sintético, caixas d´água e telhas, entre outros. Esse público tem dado mostras de que seu poder de compra está longe de ter a mesma força vista no passado recente, quando foram liberadas as verbas do auxílio governamental.

O cenário é semelhante no segmento de piscinas, responsável por cerca de 10% do consumo local de compósitos. Depois do boom vivido nos anos de pandemia, a demanda caiu bastante, principalmente quando se observa a procura pelos modelos de 2 m x 5 m, azuis e mais simples. Ou seja, os que têm mais conexão com o público de menor poder aquisitivo.

Nossa indústria também está muito atrelada à infraestrutura, área dependente do, por ora, escasso recurso governamental. Mesmo com a publicação há dois anos do Marco do Saneamento, vemos pouco ou nada acontecer nesse mercado.

Por isso, precisamos cada vez mais buscar novas aplicações. Há uma enorme expectativa, por exemplo, da cadeia produtiva de compósitos sobre os vergalhões (rebars). Talvez essa seja a principal aposta do nosso setor, e esse sentimento não se limita ao Brasil. Nos EUA, há diversos movimentos que têm como objetivo aumentar a ainda modesta fatia do material em um bolo gigantesco estimado em mais de US$ 6 bilhões/ano – compósitos representam menos de 5% disso.

Ocorre que esse “novo” produto de compósitos na construção civil não será, ao menos no momento, o responsável por virar o jogo a nosso favor. Só o crescimento econômico e mais dinheiro no bolso das classes C e D têm condições de mudar o cenário.

Diante disso, e do desempenho historicamente melhor da nossa indústria no segundo semestre, tudo leva a crer que o balanço de 2023 repetirá o de 2022. Na melhor das hipóteses.
Fábio Sanches é diretor comercial para a América do Sul da INEOS Composites

Fonte: INEOS Composites