Gastos governamentais prenunciam ‘superciclo’ mundial da construção
Chefes do setor estão prevendo um “superciclo” para a construção civil, que deverá alimentar a demanda por materiais à medida que governos pelo mundo forem bombeando bilhões de dólares em projetos de infraestrutura na era pós-pandemia.
Jan Jenisch, executivo-chefe da Holcim, maior produtora mundial de cimento, prevê uma grande onda mundial de obras, que se estenderá por anos, uma vez que muitos países desenvolvidos intensificarão os gastos para modernizar sua infraestrutura.
“Os estímulos começarão lentamente. Isso durará pelos próximos quatro ou cinco anos”, disse Jenisch ao “Financial Times”. “Acredito que estamos num superciclo de avanço para a construção e os materiais de construção.”
O executivo-chefe da mexicana Cemex, Fernando González, corroborou a posição da rival suíça e disse que os estímulos das economias avançadas também impulsionarão a demanda por cimento nos países emergentes, por meio de remessas e do comércio exterior.
“Estímulos fiscais adicionais, como a ‘Onda Verde’ [da União Europeia] e o plano proposto de empregos nos Estados Unidos, levarão a gastos significativos em infraestruturas que exigem uso maciço de cimento no fim de 2022 e mais além”, disse.
O diretor econômico do grupo setorial Associação de Produtos de Construção (CPA, na sigla em inglês), Noble Francis, também prevê um “superciclo de longo prazo” para a construção civil em mercados importantes.
Ele destacou a transição de longo prazo dos governos rumo à neutralidade nas emissões de carbono e seus planos para incentivar o crescimento econômico via grandes projetos de infraestrutura, como estradas, ferrovias, portos, energia e abastecimento de água.
Entre os planos que deverão impulsionar os gastos em obras e elevar a demanda por cimento, o material fabricado pelo homem mais consumido no mund, está o pacote do presidente dos EUA, Joe Biden, de US$ 1 trilhão de investimentos em infraestrutura.
Bruxelas também começou a dar aprovação aos planos dos governos nacionais para repartir os € 800 bilhões do fundo de recuperação da União Europeia, enquanto o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, reservou 600 bilhões de libras esterlinas (US$ 832 bilhões) para gastos em infraestrutura nos próximos cinco anos.
O diretor de finanças da Cemex, Maher Al-Haffar, projeta que a demanda por cimento aumentará entre 20% e 30% nos EUA com o projeto de infraestrutura de Biden. Francis, porém, tentou conter parte do entusiasmo.
É improvável que o crescimento dos próximos anos iguale o superciclo dos anos 2000, que foi puxado por um período de expansão sem precedentes na China, segundo Francis.
“Este provavelmente será um superciclo substancial que se mostrará mais lento que o dos anos 2000, mas sustentado ao longo de um período mais longo.”
Por outro lado, executivos do setor de construção temem que os preços mais altos possam diluir o impacto em seus lucros dos gastos governamentais em infraestrutura.
Os preços dos materiais de construção já deram um salto, diante da reabertura das economias pelo mundo e do fim dos lockdowns e das restrições a viagens.
Em maio, a Travis Perkins, maior varejista de materiais para obra do Reino Unido, elevou o preço dos sacos de cimento em 15% e alertou para a continuidade das pressões inflacionárias.
O aumento na demanda também levou à falta de madeira e de placas de reboco, sendo que produtos como as placas de isolamento já estão esgotados na Holcim até o fim do ano.
Fonte: Revista Grandes Construções